terça-feira, 16 de agosto de 2011

                          

 Pesquisa coloca fungos em condições climáticas previstas para 2100

O objetivo é descobrir se ocorrerão mudanças em sua estrutura genética

 
                                           Globo ecologia: fungos da floresta (Foto: Divulgação)
                                    Espécie de fungo estudada pelo projeto Adapta
                                                         (Foto: Divulgação)
O projeto Adapta, do Instituto de Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), realiza um grande conjunto de estudos com espécies da Região Amazônica, entre elas os fungos, a fim de descobrir, a partir de análises de DNA e RNA, os mecanismos que resultam em
adaptações dessas espécies quando expostas a modificações – naturais ou impostas pelo homem – em seus ambientes. Uma das pesquisas simula o comportamento dos fungos em diferentes condições climáticas.

O Globo Ecologia desta semana foi até o Adapta, na reserva Duke, no estado do Amazonas conhecer os fungos da floresta e sua capacidade de adaptação. Para o seu crescimento, os fungos necessitam de um ambiente em condições especiais: alta umidade, uma temperatura em torno de 32 e 36 graus, e um solo com pH adequado. Essas qualidades são encontradas em algumas florestas do Brasil, principalmente na Amazônia.
                                                 Globo ecologia: fungos da floresta (Foto: Divulgação/ Tiago de Barros)
                                            Sérgio Nozawa conversa com o repórter do Globo
                                               Ecologia, Tiago de Barros, sobre os fungos
                                                   (Foto: Divulgação/ Tiago de Barros)
O pesquisador Sérgio Nozawa se interessou por estudar os fungos desde sua graduação em Químia, em 1992, por conta de sua propriedade de fermentação.“Há 20 anos já trabalhava com fungos porque via as produções de açúcar e álcool e seu o processo fermentativo. A utilização de fungos na transformação de açúcar em etanol me chamou muito a atenção e, por isso, resolvi continuar estudando os fungos”, conta.
                                           Globo: fungos da floresta (Foto: Divulgação)
                                         Outra espécie de fungo estudada pela equipe do
                                                 porjeto Adapta (Foto: Divulgação)
Atualmente, no projeto Adapta, Nozawa investiga, junto com outros pesquisadores, como os organismos (plantas, peixes, invertebrados, fungos e mamíferos aquáticos) se comportam diante de uma modificação ambiental, que pode ser o aumento da temperatura, o aumento da concentração de CO2 ou a construção de uma hidrelétrica. Além de entender as variações sobre os conjuntos de espécies, o Adapta busca saber como cada organismo, isoladamente, nesse caso os fungos, se comporta frente a várias modificações ambientais ao mesmo tempo. A ideia é descobrir se vão se adaptar a estas condições e se, diante delas, haverá mudanças em sua estrutura genética.
No estágio anterior ao atual, o grupo de pesquisa, liderado pela pesquisadora Mônica Nozawa, investigou se os microorganismos do Rio Negro eram os mesmos do Rio Solimões. Os dois rios fazem parte da Floresta Amazônica e têm pHs diferentes. Em virtude disso, têm espécies de peixes distintas, no entanto, possuem espécies de microorganismos, como é o caso de alguns fungos, em comum.
Os pesquisadores identificaram que estes fungos que habitam os dois ambientes têm um potencial biotecnológico muito grande. Um tipo deles, por exemplo, produz polímeros biodegradáveis, substâncias químicas que podem ser convertidos na produção de plásticos biodegradáveis. Outros fungos são degradadores de celulose e conseguem converter o açúcar da madeira em energia, produzindo etanol. Alguns são capazes de produzir antibióticos naturais, denominados peptídeos antimicrobianos. Também produzem uma substância que inativa alguns vírus encontrados em plantas, os micro RNAs. Todas essas características particulares de cada espécie de fungos provam a sua importância no ecossistema do planeta.
O projeto Adapta deseja com a sua pesquisa observar os fungos que usam o açúcar da madeira para a conversão em etanol. O chamado etanol de segunda geração é um bioproduto feito da sobra do bagaço de cana-de-açúcar. Depois de explorada, a cana, que é constituída de fibras de celulose, aparentemente ficava inutilizada. Mas os pesquisadores descobriram que alguns fungos são capazes de consumir essa celulose, extrair dela mais uma quantidade de açúcar e convertê-lo em etanol, que é chamado de segunda geração, justamente por ser reutilizado.
Nozawa e sua equipe fazem a coleta desses fungos e os isolam no laboratório, onde extraem seu DNA e descobrem qual a sua espécie. De acordo com isso, cada uma é identificada e colocada em pequenas salas do projeto, chamadas de microcosmos. Existem quatro salas: uma que simula as condições climáticas atuais da floresta e outras três equipadas para reproduzir diferentes níveis de CO2, temperatura, umidade e luminosidade, todos previstas pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) para o ano de 2100.
Daqui a um ano um ano e meio, vão receber as respostas sobre quais foram as mudanças genéticas em cada uma das condições. Os pesquisadores pretendem saber se elas vão sobreviver ou não, se vão se adaptar e se vão produzir mais ou menos benefícios para a sociedade com antivirais e etanol.
       

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